sexta-feira, 18 de maio de 2012

VERÁS QUE O FILHO TEU NÃO FOGE À LUTA!


Pago pau pra brasileiro. Acho que Joaquim Osorio não tinha idea do que representaria o verso “Verás que o filho teu não foge à luta”! Não sei se o cara o escreveu pensando em tudo o que passou o Brasil, ou melhor seu povo, até meados do século 17, mas fato é que esse verso pode ser o resumo da vida de muita gente que nasceu na terrinha. Pra falar a verdade, de um modo ou de outro, de todos mesmo.

Senti muito que não fugimos à luta quando os pais da Manu foram embora. Passamos um final de semana arregaçador (para não perder o costume!). Conhecemos juntos Épinal e uma parte de Vittel que a Manu e eu ainda não conhecíamos. Almoçamos e jantamos em restaurantes muito bons e outros nem tão bons assim, mas que renderam muitas risadas e um péssimo enjôo coletivo, ainda à mesa, quando decidimos pedir uma iguaria de Vosges (nome da região em que estamos). A Andouillette, um tipo de linguiça. Quem tiver curiosidade – e estômago – é só digitar a tal palavra no Google pra ver o que passamos. O mais importante do fim de semana, é que ficamos quase que 24h todos os dias. Por não termos espaço suficiente (ou melhor, água quente, para  6 pessoas todos os dias) eles acabaram ficando num hotel. Mas chegavam em casa por volta das 10h para tomarmos juntos o “petit dejeuner” e entre passeios, conversas e demais refeições, nos despedíamos quase meia noite.

E assim fizemos por 2 dias e uma noite, até o café da manhã da segunda 14/05, dia que eles partiram. A mesa foi posta exatamente como nas demais ocasiões em que nos reunimos em torno dela, e o que havia para comer era basicamente o que todos haviam comido das outras vezes. Mas a presença de um intruso incomodava não só a mim, mas todos os presentes, tenho certeza. O sentimento de perda, que logo viria à tona, no adeus, ou até breve que aconteceria minutos depois de nosso desjejum. Aquela alegria por ter todos ali, misturada com uma tristeza por não saber quando os veríamos de novo, a não ser pela tela do computador. O não poder mais abraçar e olhar nos olhos, e nem ouvir a voz com clareza, sem passar pelo delay do Skype.

Eu já tava sentindo isso desde o domingo à noite. E na segunda, enquanto tomava banho, pensei no nosso hino. Verás que o filho teu não foge à luta. Não havia escapatória, a não ser passar pela despedida. E pensei que não fugimos à luta mesmo! Caraca... viajamos um oceano para um sonho que nem sabíamos como ia ser e deixamos para trás duas vidas, 4 ou mais famílias e muitos, muitos amigos que esperamos reencontrar em breve! Graças à Deus (e isso já tinhamos uma enorme certeza!), tudo está acontecendo da melhor maneira possível, tanto no trabalho quanto na nossa vida pessoal. Qualidade de vida então nem se fala. Mas poderíamos (e ainda podemos – estou agora batendo na madeira agora!) cair nos 50% do “pode dar errado”. E encaramos tudo com alegria, com força de vontade, uma pitada de nervosismo, uma boa colher de estresse e ansiedade à gosto. E cá estamos!

E fiquei pensando em cada uma dos brasileiros, que faz a mesma coisa todos os dias. Não exatamente viajar para outro continente, mas fazer faculdade enquanto trabalha, mudar de área, fazer casamento junto com mestrado, prestar cursinho pra concurso público depois de formado, isso só falando em coisas boas... Mas pensei também nos caras que madrugam para pegar o metro da Zona Leste pro centro de São Paulo todos os dias, enfrentar um trajeto sub-humano, e voltam pra casa depois que os filhos já estão na cama, e ainda não ganham o suficiente para sustentá-los. Verás que o filho teu não foge à luta.

E tem mais. Os brasileiros fazem isso com cabeça erguida, com sorriso no rosto, brincando e cantando o dia inteiro (mesmo que isso custe para nós aqui ficar ouvindo nas rádios locais “Ai se eu te pego...” e “Tchê tcherere tchê tchê, tcherere, tchê tchê, tchererêtchê, tchê, tchê...”). Driblam as situações com o maior jogo de cintura e encaram de frente os perrengues e vermelhos de conta fazendo piada. Claro que uns levam na flauta mesmo e acabam perdendo o controle, e se endividando e todos sabem o fim da história, e outros exageram nas brincadeiras e acabam denigrindo nossa imagem fora do país. Mas o que importa é que alegria é a nossa marca, e exportar brasileiros vai ser tão comum quanto pedir um pãozinho na padaria para o café da manhã.

É... acho que definitivamente Joaquim Osorio Duque Estrada, o compositor do Hino Nacional, nem sequer imaginava o que vinha pela frente...

Um comentário:

  1. Uau.... Lucas, que lindo!!! Isso não é só um relato de dia-a-dia, mas uma mensagem forte de incentivo a todos pra continuar buscando!!! Eu mesmo precisava encontrar boas motivações! Muito obrigada pelas palavras!!!! Maravilhoso! E parabéns por ter essa visão tão bonita e estimulante da vida! Bora lutar!!! Bon jour e muitos bisous!!!

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